Bastidores do São João

Quem é maranhense e matraqueiro sabe que todo boi de matraca tem seu valor. Alguns, claro, tem mais peso que outros. Tanto que a fruição de alguns desses bois é mais intensa e arrepiante. É o caso do Boi da Maioba e do Boi de Maracanã.

Maioba e Maracanã disputam a preferência do público. Maioba com a maior orquestra de percussão do mundo e com “se não existisse o Sol, como seria pra Terra se aquecer...”. Maracanã com seu eterno cantador Humberto de Maracanã e com “Maranhão, meu tesouro, meu torrão. Fiz esta toada pra ti Maranhão”.

Mas de fato, nem mesmo estes grandes grupos parecem ter tanto glamour nos maiores arraiais de São Luís do Maranhão. A primeira vez que me impressionei com o Boi de Maracanã foi aqui, no Recanto dos Vinhais, bairro onde não há sequer um arraial ou Viva.

Este ano o acontecimento se repetiu. No silêncio da madrugada adormecida do bairro, começou um apito, e então uma buzina, duas buzinas, barulho de motor, e, crescendo, o barulho dos estalos de um pedaço de madeira batendo em outro. Com o efeito Doppler, ao passo que ônibus e caminhões se aproximavam, aumentavam também as matracas, pandeirões e as conversas de brincantes agitados.

A voz em um microfone me fez despertar completamente. “Atenção! Estacionem os carros aqui! Estacionem os carros aqui”, dizia o homem. Olhei pro lado e minha irmã já tinha pulado da cama. Ela andou até a janela e abriu.

Era uma confusão de ônibus, caminhão, carro e gente. Dois ônibus estavam estacionados em frente a minha casa. Os caminhões cheios de pandeirões e brincantes desviavam dos ônibus e continuavam o percurso. Brincantes e seguidores dos bois – há muitas pessoas que seguem os grupos de carro durante todas as apresentações – desciam uma rua perto da minha casa e pareciam se multiplicar cada vez mais. Em poucos instantes, o que era deserto virou multidão.

Virei pra minha irmã. “Vamo descer?”, chamei. “Tu é doida”, ela respondeu e fechou a janela. O relógio marcava 4h30 da madrugada. Deitei, mas fiquei um tempo perdida em pensamentos. Em nenhum arraial antes, eu havia tomado conhecimento da dimensão desse boi. Não que eles não sejam grandes no terreiro, mas a preparação é muito maior. Em plena 4 horas da manhã, os brincantes estavam animados pegando seus grandes chapéus de pena para dançar mais uma hora ou mais. Os ônibus não podiam nem entrar pelas ruas do bairro, sob risco de não haver espaço para todos, por isso ficaram todos na avenida.

Nessas horas é que você percebe a importância do motorista que leva o caminhão das cachaças. E a paixão que leva tantas pessoas a seguir as brincadeiras. Naquela noite, eu duvido que tivesse alguém em Maracanã.

6h30. O moço do microfone começa a chamar todos os brincantes para voltarem para os ônibus. Maracanã já vai.

9h. Abro a janela do quarto. O lugar onde os ônibus estiveram naquela noite está quase vazio. As ruas estão apáticas e mais silenciosas do que o comum devido ao feriado de São Pedro. Do boi de matraca só restaram alguns sinais.


Infelizmente, também eram sinais de que não havia nenhuma lixeira por ali.

*Por Secoelho


6 comentários por segundo:

Redação Furico disse...

Vou fazer uma enquete.
Você teve coragem de ler esse texto?
( )sim
( )não, é muito grande
( )não, tenho mais o que fazer
( )não, por isso que eu uso o twitter
( )não, obrigado
( )não, estou com dor de barriga
( )não, achei o título ralado
( )não, sou mongol
( )essa enquete nunca vai acabar?
( )"Quem ver de fora, vem chegando a agora. Mexe a barriguinha sem vergonha e entre".

Carolina disse...

Eu achei massa!!!! Ê boi, rapaziada!!

Anônimo disse...

(x)"Quem ver de fora, vem chegando a agora. Mexe a barriguinha sem vergonha e entre".


uahuahauaha
eu li, eu li!

Chris Limão disse...

eu n sabia q tinha gueto no recanto...

li alguns techos...

arê

Mileide disse...

Marrapá eu descia na hora!

tá, eu li do terceiro parágrafo, mas depois achei tão legal que li o começo!

Thalita Gomes disse...

eu li alguns trechos, mas o que mais me chamou atenção foi o que diz que Seane acordou com o cara do microfone falando "estacionem os carros aqui!". Isso porque me lembra a cena de um amigo meu, bêbado, às 3hs da manhã, após descer do taxi na av. Guajajaras, aos berros com uma matraca na mão "Atenção matraqueiros e pandereiros do São Cristóvão, a feeesta continuuuua!". Foi hilário...kkkkk