Espermatozóides do Barulho - Secoelho

Na primeira tentativa séria de ingressar no quadrinhos, o nosso querido Chris Lima, ou Clis, encarnou em espermatozóides desajeitados, e fáceis de desenhar, algumas situações e características dos estudantes de Comunicação Social/Jornalismo da UFMA. Dando continuidade ao seu trabalho, desta vez não é a editora chefe do Furico, Carulhina Diniz, que fracassa na corrida da vida. Desta vez, bem, sou eu. O quadrinho também explica porque minha irmã conseguiu nascer primeiro que eu!

Por Secoelho (Seane Melo).

Veja também:
http://furicoonline.blogspot.com/2009/06/espermatozoides-do-barulho.html

maranhão: aqui e acolá

Na política nacional, somos reconhecidos por grandes nomes. Tal como José Sarney, que nem senador pelo Maranhão é, temos... Outra leva de pessoas que tem o sobrenome idêntico. Não que seja motivo de tanta vergonha assim, mas não dá pra bater no peito e dizer que somos ou estamos orgulhosos. Eles não fazem tanto sucesso quanto o nosso ‘guaraná jesus’.

Há muito, tenho tentado assimilar uma idéia de democracia que me faça aceitar a existência do congresso nacional. Mergulhado em uma série de polêmicas, a casa do povo situada em Brasília tem me deixado um tanto triste. Agora de recesso, minha iminente depressão adia sua instalação sobre a calmaria da esplanada.

E quando voltarem? Será diferente? Um dia será diferente? Não sei. Mas cada vez mais pretendo tirar o ‘sei’ da minha auto-resposta. Polêmicas a parte, nenhum dos três poderes tem dado motivo de alegria em demasia para o povo brasileiro.

Todo mundo vive como se nada estivesse acontecendo. Nada além de um comentário sarcástico-irônico numa fila de banco ao ler o “Aqui Maranhão” tem sido suficiente para mudar o caos político que no país se enraíza.

Falando em jornais populares, alguém leu “Matou a mãe e esfaqueou a tia”?


*Por Clis Pensativo

Bastidores do São João

Quem é maranhense e matraqueiro sabe que todo boi de matraca tem seu valor. Alguns, claro, tem mais peso que outros. Tanto que a fruição de alguns desses bois é mais intensa e arrepiante. É o caso do Boi da Maioba e do Boi de Maracanã.

Maioba e Maracanã disputam a preferência do público. Maioba com a maior orquestra de percussão do mundo e com “se não existisse o Sol, como seria pra Terra se aquecer...”. Maracanã com seu eterno cantador Humberto de Maracanã e com “Maranhão, meu tesouro, meu torrão. Fiz esta toada pra ti Maranhão”.

Mas de fato, nem mesmo estes grandes grupos parecem ter tanto glamour nos maiores arraiais de São Luís do Maranhão. A primeira vez que me impressionei com o Boi de Maracanã foi aqui, no Recanto dos Vinhais, bairro onde não há sequer um arraial ou Viva.

Este ano o acontecimento se repetiu. No silêncio da madrugada adormecida do bairro, começou um apito, e então uma buzina, duas buzinas, barulho de motor, e, crescendo, o barulho dos estalos de um pedaço de madeira batendo em outro. Com o efeito Doppler, ao passo que ônibus e caminhões se aproximavam, aumentavam também as matracas, pandeirões e as conversas de brincantes agitados.

A voz em um microfone me fez despertar completamente. “Atenção! Estacionem os carros aqui! Estacionem os carros aqui”, dizia o homem. Olhei pro lado e minha irmã já tinha pulado da cama. Ela andou até a janela e abriu.

Era uma confusão de ônibus, caminhão, carro e gente. Dois ônibus estavam estacionados em frente a minha casa. Os caminhões cheios de pandeirões e brincantes desviavam dos ônibus e continuavam o percurso. Brincantes e seguidores dos bois – há muitas pessoas que seguem os grupos de carro durante todas as apresentações – desciam uma rua perto da minha casa e pareciam se multiplicar cada vez mais. Em poucos instantes, o que era deserto virou multidão.

Virei pra minha irmã. “Vamo descer?”, chamei. “Tu é doida”, ela respondeu e fechou a janela. O relógio marcava 4h30 da madrugada. Deitei, mas fiquei um tempo perdida em pensamentos. Em nenhum arraial antes, eu havia tomado conhecimento da dimensão desse boi. Não que eles não sejam grandes no terreiro, mas a preparação é muito maior. Em plena 4 horas da manhã, os brincantes estavam animados pegando seus grandes chapéus de pena para dançar mais uma hora ou mais. Os ônibus não podiam nem entrar pelas ruas do bairro, sob risco de não haver espaço para todos, por isso ficaram todos na avenida.

Nessas horas é que você percebe a importância do motorista que leva o caminhão das cachaças. E a paixão que leva tantas pessoas a seguir as brincadeiras. Naquela noite, eu duvido que tivesse alguém em Maracanã.

6h30. O moço do microfone começa a chamar todos os brincantes para voltarem para os ônibus. Maracanã já vai.

9h. Abro a janela do quarto. O lugar onde os ônibus estiveram naquela noite está quase vazio. As ruas estão apáticas e mais silenciosas do que o comum devido ao feriado de São Pedro. Do boi de matraca só restaram alguns sinais.


Infelizmente, também eram sinais de que não havia nenhuma lixeira por ali.

*Por Secoelho