Acredito que todo mundo que esteve diante de um formulário teve a sensação que eu tive na ultima sexta-feira. Não foi o primeiro formulário da minha vida. Já fiquei horas preenchendo os do vestibular por meio dos quais decorei meu rg e cpf. Mas o da sexta foi com certeza foi o mais estressante e desajeitado. Esse queria me “dirrubar”.
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Acho que a pior coisa é não ter alguém do lado que já tenha preenchido uns três ou quatro iguais ou parecidos no curso da vida. Por isso que a minha mãe é a pessoa mais indicada pra estar do lado de alguém que precise completar todos aqueles quadradinhos insuportáveis. Mas ela não tava lá.
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Não tava lá e nem se preocupou em atender o celular quando eu liguei.
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O formulário a ser preenchido me lançaria no mundo da quase independência pelo curso de quatro meses. Pois é, era um formulário para recebimento de bolsa de monitoria. Monitoria que caiu do céu.
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Dona Nair entrega o papel com mil perguntas.
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O começo foi moleza: dados pessoais. Meu nome, endereço (sempre fico constrangida com ele), meu rg... moleza. Meu curso. Ta bom. História, mas... boto licenciatura ou não? Sei lá... só História ta bom. Título do projeto? Sei lá! Vou perguntar:
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- Dona Nair?
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Ela não respondeu. Deve estar concentrada. Chamo de novo ou não? Ah quer saber, esquece! Acho que ninguém nem vai ler mesmo.
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Ta bom. O que falta? Número da conta? Mas eu nem tenho conta!
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- Dona Nair, eu não tenho conta, o que eu faço? – falei com segurança e inocência. Meu erro.
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Acho que Dona Nair tem problemas em casa. Só pode! Ninguém trata os outros mal e depois ainda se acha a dona da razão. Pois é. Quando eu disse que não tinha conta ela me perguntou – olhando por cima dos óculos e com aquele ar de “essa-mala-só-veio-aqui-pra-atrapalhar-meu-serviço”:
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- Minha filha, como é que você quer receber uma bolsa sem ter conta em banco?!
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Duas coisas me irritaram profundamente: o fato dela me olhar com cara de quem domina o mundo e me chamar de “minha filha”. Que absurdo! Por acaso ela nunca foi chamada de “minha filha” e odiou?
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Acho também que Dona Nair gosta mesmo é de ver as pessoas desesperadas, pois foi assim que eu fiquei na hora: d-e-s-e-s-p-e-r-a-d-a! Alguns segundos depois, ela disse que eu poderia colocar o número da conta de algum conhecido. Alívio profundo. Mas ainda assim saí da sala dela pensando que ela só tava esperando eu sumir no horizonte pra rasgar o meu formulário.
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Como já disse, essa não foi a minha primeira experiência com formulários, mas com certeza foi a mais traumática. Mas quem nunca tremeu perto de uma folhinha com quadrinhos pronta pra ser preenchida? Dizem as donas matildes da vida que até mesmo os grandes homens da História ficaram sem saber o que fazer quando lhes foi entregue um formulário. Dizem que Dom Sebastião, quando estava retornando a Portugal, foi barrado em um principado na França, pois seu visto estava vencido. Teve que preencher um formulário para entregar ao monarca reinante, mas já que esqueceu o número do cpf, não pode pegar o atalho pela França tendo então que retornar. Depois disso ele nunca mais foi visto...
*Por Carulhina
(Este texto foi escrito no início de 2008 para a extinta RadioBleh. Foi editado e colocado aqui pois 99% dos integrantes do Furico.Online estão atolados de trabalho ou viajando, motivo pelo qual se tem uma overdose de Carulhina. Em março voltaremos com a programação normal).
Experiências com formulários
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4 comentários por segundo:
Ah! As pessoas reclamam de formulários, mas na hora de responder as perguntinhas d'Orkut...
E digo mais, os formulários nos ajudam a descobrir mais sobre nós mesmos. Quem não sabe seus números decorados vai logo aprendendo.
Engraçada a vida...muitas vezes coisas importantes e decisivas pra nós são irremediavelmente confinadas a...quadradinhos em branco! Cada letra no-seu-quadrado, cada letra no-seu-quadrado! É, sempre temos que nos enquadrar em alguma coisa...muitas vezes pra não sermos...quadrados!
Zaza sempre filosófica!! *ADORO*
Genteee, que isso! Quando eu comecei a ler o comentário de zaíra, eu pensei "Pronto! Baixou Foucault em Zazá!", mas essa conclusão foi totalmente "Que puxa!".
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